Vem comigo, entrar numa fria no Egito…

Esfinge

As motivações para viajar provavelmente são tantas quantos são os viajantes, cada um tem motivos para sair de sua casa e ir para o mundo, seja um final de semana na praia ou uma volta completa no planeta.
O que nos levou ao Egito em 2011 foi a curiosidade histórica sobre um dos períodos mais intrigantes da Humanidade, uma viagem que faz parte de uma busca maior que temos feito há anos, envolvendo Arte, História, as grandes navegações, criação e decadência de impérios, enfim, a construção do mundo como o vemos hoje, tentando entender os caminhos. É uma grande viagem, dividida em capítulos, se podemos assim chamar.

Egito

O que não imaginávamos era que acabaríamos sendo testemunhas involuntárias de um fato histórico, que foi a Primavera Árabe no Egito, com a queda de Mubarak.

Uma viagem pelo Oriente Médio geralmente tem um componente de aventura em razão dos inúmeros conflitos na região. Cientes desta condição não estranhamos quando na viagem entre Assuam e Abu Simbel nossa caravana foi escoltada pelo exército, numa longa e inesquecível viagem pelo Saara, com direito a nascer do Sol no deserto. Aliás, vocês sabiam que Saara quer dizer deserto? Pois é, eu também não!

Voltando à história, depois do cruzeiro pelo Nilo, visitando os templos, o Vale dos Reis e de segurar um crocodilo vivo (esta depois eu conto) numa aldeia Núbia, voltamos ao Cairo.

Neste ponto é importante lembrar que a ignorância é uma das principais fontes da felicidade. Digo isto porque, apesar da agitação política estar chegando ao auge na cidade do Cairo, o sul do Egito, onde estávamos, estava tão calmo quanto a múmia de Ramsés (aliás, magnífica) e não tínhamos a menor ideia do tamanho da confusão que estava se formando. É o dá não falar a língua local!

Estávamos hospedados em Heliópolis, subúrbio do Cairo onde concentram-se os hotéis de algumas redes internacionais e shopping centers, um dos quais anexo ao nosso hotel. No dia em que voltamos à cidade, a confusão estava formada, estávamos jantando no hotel quando percebemos uma correria na rua, o shopping fechou e os funcionários estavam com aquela cara de ¨está tudo sob controle¨ que as pessoas assumem quando não há controle nenhum…

Conosco estavam dois casais, bons e queridos companheiros de viagem que encontramos por um feliz acaso no cruzeiro, o Daniel e a Isabela de Belo Horizonte, a Lorena e o Ronald da Costa Rica.

Nosso voo para Istambul sairia de madrugada, e o hotel nos disponibilizou uma van com motorista, intérprete e um café da manhã antecipado, entregue em embalagens apropriadas.

O clima no hotel era daqueles filmes de guerra americanos, e o saguão estava dividido entre turistas que só queriam voltar para casa e moradores locais, buscando refúgio e com graus variados de culpa no cartório, querendo fugir do país.

Assim, foi com certo alivio que embarcamos na van para o translado até o aeroporto, mesmo sabendo que as chances de chegar lá sem problemas eram, para sermos educados, remotíssimas. Ou seja, ia dar problema, restava saber o tamanho da encrenca…

Na van, o motorista, o intérprete, a Lorena, o Ronald, eu e o Carlos.

Não tínhamos percorrido nem dez minutos quando fomos cercados por uma multidão (tá bem, eram uns vinte, mas às duas da manhã e gritando ordens em árabe, armados com bastões e facas, até uma pessoa pareceria uma multidão!).

Entre nós e eles, apenas o intérprete e um caderninho com capa azul, o abençoado passaporte brasileiro. Depois das explicações, nos deixaram passar, mas orientando sobre o trajeto e que andássemos em velocidade reduzida, com as luzes internas da van acesas e as cortinas abertas. Como prova de nossa boa vontade, deixamos com eles as embalagens com os cafés da manhã do hotel. Por algum motivo tínhamos perdido a fome…

Depois deste breve intervalo, continuamos viagem pela cidade deserta até chegarmos a uma segunda barreira, desta vez do exército. Novas orientações, verificação de passaportes, vistorias etc.

No aeroporto, o caos. Uma versão ampliada do saguão do hotel, com gente do mundo inteiro querendo sair dali no primeiro voo. Ao fazermos o check in, um americano, com um maço de dólares na mão, querendo comprar nossas passagens (até hoje imagino quanto dólares ele estaria disposto a pagar…)

Resumindo, ao fim e ao cabo, conseguimos embarcar pela Turkish para Istambul, mas a Lorena e o Ronald, que estavam com a American para Nova Iorque, ficaram retidos no aeroporto por 36 horas, câmeras confiscadas, sentados no chão, menu completo!

Ao sobrevoarmos o delta do Nilo, com o Sol nascendo sobre o Mediterrâneo e olhando aquela terra tão antiga e complexa, a certeza de que estávamos levando para casa muito mais do que fomos buscar, uma experiência fascinante de ver uma revolução acontecendo, um povo tentando se libertar.

E a compreensão de que estivemos no lugar certo, na hora certa.

6 thoughts on “Vem comigo, entrar numa fria no Egito…

    1. Tânia Coelho Post author

      O Egito é um país que impressiona por sua arquitetura, história e enigmas José Otávio! Ter acompanhado de perto esta revolução e levado um susto, nos fez compreender um pouco mais da situação delicada que vive este país. Muito obrigada por acompanhar as postagens no ¨Vem Comigo¨e por seu feedback. Grande abraço!

    1. Tânia Coelho Post author

      Que prazer ter você acompanhando estas histórias Rosane! O Egito tem seus encantos e é um cenário para ótimas fotografias sem dúvidas! Muito obrigada por seus comentários e seja sempre bem vinda a este site!

  1. Jose Fernando dos Santos Serra

    Parabéns e obrigado,Tânia pela oportunidade que vc está nos dando de conhecermos outras culturas.

    1. Tânia Coelho Post author

      Olá José Fernando! O prazer é todo meu em receber seu feedback sobre o Egito e poder constatar que está gostando destas histórias!Eu adoro tudo o que envolve outras culturas e por isso resolvi compartilhar um pouco destas experiências! Muito obrigada por acompanhar o Vem Comigo. Um abraço e até o próximo!

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